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Há Lares No Mundo Com Acesso à Eletricidade Graças à Energia Que Se Instalou No Porto

Haverá quase 700 milhões de pessoas no mundo sem eletricidade. No Porto, há uma equipa com uma solução. A Okra tem origem na Austrália, desenvolveu a primeira tecnologia no Cambodja e encontrou na Invicta a energia ideal para levar eletricidade a famílias das áreas mais remotas da Nigéria, do Haiti ou das Filipinas. Hoje, quando veem que é o código que criaram que está a permitir a milhares de famílias, por exemplo, cozinharem de forma mais limpa, sentem a missão de “levar o poder às pessoas”* a dar cada vez mais luz, numa meta que ainda tem muitos milhões.

É Nithya Menon, a responsável de produção, quem explica que a ideia da empresa, talvez se possa dizer, está no meios do melhor de dois mundos: os sistemas solares domésticos e os mini-grids. Os primeiros, “usados para pequenas quantidades de eletricidade, como carregar um telemóvel ou acender uma lâmpada, são baratos e muito flexíveis, mas não correspondem a uma efetiva eletrificação”.

Os segundos, onde “um ponto central gera e instala toda a energia, como temos nas nossas infraestruturas”, capazes de “providenciar a energia principal que faz trabalhar todos os equipamentos”, mas cuja panóplia de geradores, baterias e cabos se revela, diz Nithya, “um grande desafio de engenharia, financeiramente insustentáveis e, por isso, não aplicáveis ao que estas comunidades precisam”.

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No meio, está a solução da Okra, a tecnologia de meshgrid, que “instala uma caixa em qualquer casa” para produção de energia, a partir do sol, e a distribui pelas várias caixas – ou casas – que fazem a rede. “Se houver mais energia num local, pode ser transferida para outro. Esse é o efeito de equilíbrio da grelha, sem ter cada um a produzir isoladamente”, explica a responsável.

Com mais energia disponível, “as casas podem usar um frigorífico, fazer uma refeição, usar a energia na agricultura”, tudo ligado ao mesmo tempo e de forma “verde”. Uma comunidade energética que funciona com o poder da vizinhança.

Não queremos vir de longe para dentro de uma comunidade a dizer que vamos solucionar todos os seus problemas”

“Originalmente, a tecnologia foi criada puramente para habitações, mas depois vimos que havia procura para outros locais como escolas, um centro de produção, algo que precisasse de um aparelho maior”, conta Nithya Menon.

E a Okra avançou com uma resposta. A responsável da empresa acrescenta, no entanto, que “não queremos vir de longe para dentro de uma comunidade a dizer que vamos solucionar todos os seus problemas”.

Por isso, a presença em quatro países concretiza-se através de clientes e parceiros locais, “que conhecem as necessidades das comunidades” e fazem a manutenção, estimando que, “ao todo, sejam entre 20 a 25 mil pessoas que agora têm acesso a eletricidade”.

Faz sentir que cada linha de código que escreves está a mudar a vida de tantas pessoas”

Nithya Menon não deixa de confessar que “enquanto engenheira, estar no escritório, em Phnom Penh, e guiar três horas até uma comunidade rural, instalar o produto e ver as pessoas com luz, com as ventoinhas a funcionar graças a ele, foi uma experiência muito poderosa”.

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“Faz sentir que cada linha de código que escreves está a mudar a vida de tantas pessoas”, sublinha, reforçando o impacto de saber que tantos “agora têm acesso a eletricidade, podem parar de gastar dinheiro em madeira, o fumo é reduzido dentro das casas, cozinham de forma limpa, as mulheres têm mais tempo e capacidade para fazer outras atividades”.

“Estas comunidades têm eletricidade por causa do que fazemos todos os dias e isso é muito especial”, acrescenta a responsável pelo desenvolvimento da tecnologia.

Gostamos de diversão, somos caóticos, não somos super estruturados, percebemos que podíamos ser felizes aqui, fazer desta a nossa casa”

Do Cambodja ao Haiti, o melhor entre estes dois mundos e os olhos no mercado africano. Assim surge o Porto na trajetória da Okra e há uma história de desconfinamento pelo meio.

Nithya conta que a equipa pensou “em sítios onde a cultura estivesse em sintonia com a nossa empresa, onde conseguíssemos atrair tanto talento nacional como internacional, locais estratégicos para chegar aos nossos mercados, um bom local para crescer, que fosse seguro, com boas ligações, acessível em termos de rendas”.

O primeiro encontro entre todos depois do confinamento, em 2021, foi em Portugal, que “ia totalmente de encontro à nossa energia”, admite a responsável da Okra. “Gostamos de diversão, somos caóticos, não somos super estruturados, percebemos que podíamos ser felizes aqui, fazer desta a nossa casa”, acrescenta.

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A proximidade com países africanos de expressão portuguesa também pesou, claro, e “Moçambique será, provavelmente, o nosso próximo mercado”, adianta Nithya. Se há dois anos eram seis pessoas, o escritório da Okra, na Founders Founders, já vai nas duas dezenas, reflexo, também, do “ecossistema de empresas de hardware com quem podemos aprender e construir um espaço comum”, como o que encontraram naquele espaço em Campanhã, mas um pouco por todo o território.

A “entrar no cenário climático e das energias renováveis em Portugal, a ver como as tecnologias limpas estão a ser implementadas”, a Okra está a trabalhar para “aprofundar as relações institucionais nesse sentido”, iluminada pela missão assumida de “querer ser uma parte ativa nesse campo”.

Parece que nos aparece sempre o talento certo para cada necessidade que surge”

Além do “cenário tecnológico em crescimento” a que assistem na cidade, Nithya Menon não deixa de se surpreender com o talento. “Cada vez que temos uma nova vaga, pensamos se sequer haverá alguém que o consiga preencher porque escolhemos caraterísticas tão únicas”, confessa, admitindo que “parece que nos aparece sempre o talento certo para cada necessidade que surge. Tem sido impressionante e excitante descobri-los”.

Um puzzle que se vai construindo uma lâmpada, uma bateria, uma casa e uma comunidade de cada vez. Num mundo onde o “poder” da energia ainda é uma utopia para milhões.

*”poder” na tradução literal de “power”, que significa “energia”

Fonte: Porto.